segunda-feira, 7 de setembro de 2020

O que deu errado com o Brasil?

Essa é a pergunta que Ciro Gomes, terceiro candidato mais votado nas eleições presidenciais de 2018, tenta responder com este novo livro “Projeto Nacional: o Dever da Esperança”, o quarto de sua carreira como professor, escritor e administrador público.

No livro, Ciro mostra, primeiramente, que o Brasil não é algo desconhecido para ele. O paulista-cearense explana, com toda segurança e fluidez do mundo, sobre diferentes áreas da economia, indústria, cultura, política, história, entre outras, relacionando todas elas sob este imenso guarda-chuva chamado Brasil.

Por isso, a resposta que ele dá para a pergunta acima é complexa: não foi somente uma coisa que deu errado. Como um paciente acometido por uma síndrome aguda, o país sofre de diversos sintomas que precisam ser estudados e tratados. Mas o nome da doença, ele diz ter encontrado: anemia causada pela falta de um projeto nacional de desenvolvimento (PND).

Na primeira parte do livro, Ciro faz um diagnóstico preciso, com números e dados, sobre a situação do país. Perpassando quase um século de história econômica, ele volta às raízes do desenvolvimentismo nacional, mostrando como o Brasil se tornou uma das maiores economias do planeta.

Ele também fala sobre as crises econômicas, os governos pós-redemocratização e os anos mais recentes da vida do país, sempre com uma visão ao mesmo tempo crítica e analítica, buscando mostrar onde estão os erros e as causas da nossa debacle políticossocioeconômica.

Mas o livro não é somente sobre erros, mas também sobre acertos: o que deu certo para o Brasil ter sido o país que mais cresceu no século XX, e o que é preciso fazer, segundo sua análise, para ele voltar para os trilhos.

Da metade para o final do livro, Ciro Gomes apresenta a sua proposta. Segundo ele, se em 2002, houve a tal “carta aos brasileiros” do PT, ele escreveu um “livro aos brasileiros”, com a diferença de não haver promessas, mas um projeto nacional-desenvolvimentista.

Ciro apresenta um projeto completo, com metas, métodos, desafios, estratégias, de onde virá o dinheiro e onde ele será gasto. E é daí que eu pego o maior acerto e o maior “erro” do livro: talvez, seu maior acerto, além do diagnóstico, seja propor reformas claras e bem embasadas para o país, sempre com um foco no realismo fiscal e na justiça social.

Para mim, o que faltou foi uma maior explicação sobre as metas: ele diz que o projeto visa dar ao Brasil, em até trinta anos, indicadores socioeconômicos similares aos da Espanha, um de seus modelos de crescimento com bem-estar social. No entanto, não detalha a fundo quais são numericamente os indicadores, não dando nem ao menos um ano de referência, o que me faz acreditar que sejam os da Espanha de 2019, ano em que o livro foi escrito.

Ciro não se delonga também em como este projeto pode ser continuado, a longo prazo, com as futuras alternâncias de poder no país, já que uma de suas propostas para a reforma política é o fim da reeleição para cargos no Executivo. Talvez, tenha segurança na aprovação popular após os resultados começarem a aparecer, como é hoje no Ceará, o estado com a melhor educação básica do país.

Apesar das lacunas, Ciro é convincente em sua proposta e nos desperta, se não a esperança, mas a curiosidade de ver como seria ter este projeto implementado, seja com ele ou outra pessoa como presidente. Uma coisa é certa: estaríamos muito melhor do que estamos hoje.

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