sexta-feira, 27 de março de 2009

AFFIRMATION

Eu resolvi falar deste álbum não por nostalgia, pois nostalgia se sente por algo que ficou no passado. Embora, musicalmente, o primeiro álbum do Savage Garden seja muito mais interessante (recomendo fortemente escutar), "Affirmation" traz algo que, para mim, marca muito mais do que qualquer sonoridade: sentimento. As letras deste disco chegam às vezes a beirar a inocência, sendo carregadas de duas coisas inevitáveis nesta vida: amor e dor. E quem já sentiu o segundo em decorrência do primeiro, sabe o quanto foi inocente.

No entanto, o álbum abre bastante otimista, com a animada "Affirmation", com uma irresistível batida anos 80 e um refrão fácil de pegar. Todos os versos da canção começam com a entonação "I believe that...", falando de todas as coisas que o autor (Darren Hayes) acredita. Não precisa ser psicólogo para saber que os momentos em que você mais necessita fazer afirmações, são, na verdade, os momentos de maior sentimento de negação.

Apesar do álbum ainda conter as dançantes "The Best Thing", "Chained To You" e "The Animal Song", a maior parte das canções de "Affirmation" são músicas magoadas, sofridas, tristes e sobre um tema recorrente: a separação. "Hold me", a faixa 2, traz um sentimento de pura angústia, abatimento e saber que a relação está perto do fim. O que mais encanta em todas as composições do disco são a maturidade e sinceridade com que tudo é dito, não há nenhum drama ou excesso de emotividade, mas apenas o mais sincero sentimento e honestidade.

"I Knew I Loved You" (#3) mais do que uma canção ultra-romântica sobre apaixonar-se, é uma canção sobre querer apaixonar-se, com toda entrega e expectativa que isto traz. Provavelmente foi um momento de respiro no processo de composição, onde Hayes depositou toda a espera de alívio ao escrever a letra. "Crash and Burn", apesar da mensagem de lealdade, volta ao tema da solidão, sofrimento e de sentir que o seu mundo está desabando.

Da metade do álbum para a frente, depois dos hits da banda e das canções mais pop, o álbum se torna totalmente sério, melancólico e doloroso. "The Lover After Me" (uma da melhores canções da dupla) fala sobre não conseguir superar a dor da perda, da separação, e do pensamento constante, apesar do passar do tempo. Logo depois, a frágil "Two Beds and a Coffie Machine" traz à tona um casal em constantes brigas, que termina com o abandono e a mágoa dos dois. A música é extramente tocante quando fala das crianças, inocentes no meio de tudo. "You Can Still Be Free", a faixa seguinte, é certamente a mais obscura do disco, com um tema sensível: a morte.

"Gunning Down Romance", a penúltima faixa, mostra todo o ceticismo do compositor com o amor, devido à dor que lhe trouxe. O álbum fecha em um tom de despedida com a bela "I Don't Know You Anymore", levada apenas no piano, falando sobre as feridas que parecem ainda existir. A música deixa a sensação final de que a mágoa e a dor da separação ainda irão permanecer e que talvez a distância seja capaz de curar.

Enfim, muito mais do que um álbum pop sobre corações apaixonados, "Affirmation" registra uma fase de sofrimento e separação do vocalista e compositor da banda, sendo um disco essencialmente solitário e sensível, sobre como achar forças e amadurecer em meio à toda dor que a lembrança traz. No começo deste texto eu disse que não era uma resenha sobre nostalgia, justamente porque somente o tempo pode trazer amadurecimento para compreender muitas coisas nele. "Affirmation" é um álbum adulto, maduro, reservado e sensível, características pouco compreendidas por grande parte das pessoas.

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